Cynthia Lemos
Egosmo e ingratido sobram quando falta inteligncia emocional 205l4y
07/11/2024, 05h:00 - Atualizado: 07/11/2024, 07h:09
Rodinei Crescncio/Rdnews

Eu devia ter meus 18 ou 19 anos quando um episdio me fez encarar minha postura egosta e mimada diante da vida. Era meu aniversrio, e eu ganhei um porta-joias de do meu namorado. Como eu esperava algo diferente (pois, na minha viso, a vida tinha uma dvida comigo), fiquei furiosa com o presente e surtei.
Na poca, eu realmente achava que o mundo me devia algo, uma dvida que se acumulava desde a infncia. Eu sentia que, jogada no mundo como um animal faminto, algum deveria suprir essa “fome” que meus pais, do meu ponto de vista, haviam sido incapazes de saciar.
Algo importante para compartilhar sobre a repetio de padres que, durante toda a minha infncia, lembro-me de como soframos nos aniversrios da minha me. Ela nunca gostava dos presentes que ganhava. Em um aniversrio, meu pai deu a ela um perfume que eu mesma havia escolhido, mas ela ficou muito brava, pois odiou o cheiro e esbravejou. Em outra ocasio, meu pai deu duas assadeiras para pes, e lembro-me da surpresa que senti quando ela ficou to furiosa que amassou as assadeiras com os braos, deixando-as completamente distorcidas e inutilizveis.
Conforme crescia, ei a preferir no escolher nada para presente-la nessas datas, tamanha era a dificuldade. Mesmo criticando o comportamento dela, eu, sem perceber, estava repetindo a mesma atitude com meu namorado.
Eu sentia uma mistura de raiva, vazio, esperana e diversos sentimentos ao buscar algo que suprisse minha angstia e dor. Mas essa busca era direcionada ao desejo de ter algo capaz de aplacar as sensaes que me atormentavam.
A raiva surgia porque ele no conseguia me dar o que eu achava que faltava – uma combinao de amor e proteo que pudesse preencher meu
vazio emocional. Quando ele falhava em suprir essa necessidade, eu era dominada pela raiva e frustrao, cobrando-o duramente, como a menina mimada que ainda era.
Foi nesse momento que, em um raio de clareza, tive um despertar:
“Ningum vai me dar… sou eu por mim mesma!”
Assim, segui para o outro extremo da minha jornada:
“Sou eu quem vou construir e edificar! No preciso de algum que me d, apenas de quem no me atrapalhe!”
Fui ao extremo do protagonismo – uma postura necessria naquela fase de transio, mas ainda insuficiente, pois continuava centrada em mim mesma. O outro existia apenas para me servir, e, como no me completava, tornava-se uma “prtese til” at ser substituda.
Adotamos uma postura de vtima, de quem se sente injustiado, sempre crtico, com convices absolutas sobre as solues para os problemas do mundo. Como “reis da verdade”, nos colocamos como se o mundo nos devesse algo eternamente. Vivemos do ado, remoendo o que deveria ter sido e no foi, culpando e julgando nossos pais pelo que no puderam ser, e seguimos pela vida oscilantes, vulnerveis e reativos.
Mas e ento? Como nos livramos dos “reclames”?
No h como nos livrarmos deles. Eles esto por toda parte (inclusive, inquietos ou adormecidos dentro de ns). O essencial estarmos atentos e despertos para que eles no ganhem fora e cresam em proporo.
O autoconhecimento um caminho libertador para evitar essas armadilhas. Ao nos tornarmos conscientes dos gatilhos que existem e nos envolvem, samos do campo do inconsciente. Despertos, amos a protagonizar a prpria vida, e o vitimismo perde seu propsito.
Cynthia Lemos psicloga e empreendedora; fundadora da Grandy Psicologia Empresarial e escreve neste espao quinzenalmente s quintas-feiras