Maurcio Munhoz
Censura e priso: A nova vida universitria americana 4a2f47
31/05/2025, 05h:00 - Atualizado: 30/05/2025, 15h:54
Rodinei Crescncio

Nos ltimos meses, os Estados Unidos tm atravessado um momento crtico, marcado pela represso a protestos estudantis pr-Palestina, ataques governamentais s universidades, aes arbitrrias contra estudantes estrangeiros e, mais recentemente, pela sada de Elon Musk do governo. Esses episdios no apenas revelam uma escalada autoritria, mas tambm colocam em xeque a tradio democrtica e pluralista do pas.
A represso violenta aos protestos em defesa da Palestina, com milhares de estudantes presos por agentes muitas vezes no identificados, um dos sinais mais graves desse processo. Mais de 3 mil manifestantes foram detidos em dezenas de universidades, incluindo instituies centenrias como Harvard, Yale e Columbia. Para alm das prises, h relatos de perda de vistos por estudantes estrangeiros sem qualquer justificativa formal, o que amplia o clima de medo e insegurana.
“Historicamente, governos autoritrios buscaram enfraquecer as universidades e movimentos estudantis como estratgia para sufocar a crtica e impor uma viso nica de mundo. A universidade , por excelncia, um dos pilares da democracia” 2w4y63
Harvard, smbolo global do pensamento crtico e da excelncia acadmica, tornou-se alvo direto do governo, que ameaou revogar sua autorizao para receber estudantes internacionais. Essa medida, associada a acusaes infundadas de apoio a movimentos extremistas ou a governos estrangeiros, revela uma tentativa de deslegitimar a universidade como espao de contestao e debate pblico.
Historicamente, governos autoritrios buscaram enfraquecer as universidades e movimentos estudantis como estratgia para sufocar a crtica e impor uma viso nica de mundo. A universidade , por excelncia, um dos pilares da democracia: espao de liberdade de pensamento, produo de conhecimento e formao de cidados crticos. Atacar as universidades significa, portanto, atacar a prpria democracia. Foi assim na ditadura militar brasileira, na represso sovitica aos dissidentes intelectuais ou nas perseguies do regime de Pinochet no Chile.
Nesse contexto, a sada de Elon Musk do Departamento de Eficincia Governamental (DOGE) mais do que um episdio isolado. Musk, at ento considerado um dos principais aliados do governo, rompeu aps crticas ao “big beautiful bill”, que uniu cortes de impostos a uma poltica migratria ainda mais restritiva. Sua sada representa no apenas o afastamento de um dos empresrios mais influentes do pas, mas um sinal claro de que at aliados estratgicos consideram as medidas do governo excessivas e prejudiciais.
Esse rompimento evidencia um processo de isolamento e radicalizao do governo, que se fecha em torno de uma viso poltica cada vez mais extremada, intolerante s divergncias e avessa ao dilogo. Tal isolamento aprofunda a crise institucional e poltica, e alimenta uma insegurana que ultraa as fronteiras dos Estados Unidos, afetando a estabilidade internacional e o equilbrio geopoltico global.
Como nos ensina Michel Foucault em Vigiar e Punir, as instituies de poder se mantm no apenas pelo uso da fora, mas pelo controle dos corpos, dos saberes e dos discursos. A ofensiva contra as universidades e estudantes revela justamente esse movimento: controlar o pensamento, as narrativas e as aes sociais que possam ameaar a ordem estabelecida.
Diante desse cenrio, a defesa das universidades como espao de resistncia, crtica e liberdade torna-se no apenas uma bandeira acadmica, mas uma causa democrtica fundamental. O que est em jogo o prprio futuro da democracia nos Estados Unidos e, por extenso, a garantia de que o saber e a liberdade no sejam sufocados pelo autoritarismo e pelo medo.
Escrito com Sara Nadur Ribeiro
Maurcio Munhoz Ferraz assessor do presidente do Tribunal de Contas de Mato Grosso e professor de economia