O Conselho Nacional de Justia (CNJ) assinou semana ada, um acordo de cooperao com a plataforma de entregasiFoodpara combater a violncia contra a mulher. A plataforma vai capacitar profissionais que realizam entregas para que eles reconheam pedidos silenciosos de socorro de mulheres que enfrentam situaes de violncia domstica. Durante a do acordo, o presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Lus Roberto Barroso, disse que a violncia domstica no Brasil uma "epidemia", e a sociedade precisa ser mobilizada em prol do tema.

Chamou ateno do mundo inteiro a atitude de uma famosa cantora mexicana chamada Alicia Villarreal, que ao final de um show, esta semana, ao agradecer o pblico, ergueu a mo, dobrou o polegar sobre a palma e fechou os dedos sobre ele, num sinal amplamente divulgado para pedir ajuda em casos de violncia domstica. O gesto feito em pblico, numa feira agropecuria, falou por si, se espalhou e ganhou manchete nos principais jornais, que logo noticiaram que havia uma semana a artista tinha registrado uma denncia contra o marido e foi vista dando entrada em um hospital, com ferimentos aparentes, a cantora entrou com pedido de divrcio.

Em udio divulgado aps seu assassinato, possvel ouvir a jornalista Vanessa Ricarte, de Campo Grande, MS, reportar a um amigo, tambm jornalista, o seu desapontamento e esgotamento emocional com o atendimento que recebera quando foi registrar a ocorrncia de violncia domstica e pedir medida protetiva contra o noivo na Delegacia Especializada em Atendimento Mulher. A jornalista relatou falta de acolhimento e de orientao e atendimento frio. Mesmo assim, requereu medida protetiva e acompanhada pelo amigo para quem ligara, foi para casa retirar suas coisas. O noivo estava na casa e atacou Vanessa e o amigo, que conseguiu escapar. Vanessa tinha apenas 42 anos.

Se uma jornalista teve essa percepo do atendimento desleixado, sem empatia alguma, imagine o tratamento que dado a mulheres humildes, sem esclarecimento para fazer essa leitura das entrelinhas do que ela viveu enquanto denunciava. Percebe ento, por que muitas so desencorajadas a finalizar a queixa e o pedido de medida protetiva?

Ao final do udio, ouve-se Vanessa angustiada: “Eu que tenho instruo fui tratada dessa maneira, imagina uma mulher vulnervel l no meu lugar. Essas que vo para as estatsticas do feminicdio”. Lamentavelmente, Vanessa tambm virou estatstica.

Mato Grosso registrou um aumento significativo nas denncias de violncia contra a mulher em 2024, mesmo assim, mais de 80 crianas ficaram sem mes no perodo. Muitas mulheres no dimensionam a potencialidade do agressor, vo levando o relacionamento diante. Porm, em todos os papis que tratam do tema, h uma tese compartilhada: “Todo agressor de violncia domstica um potencial feminicida”.

A violncia contra a mulher uma ameaa ao bem-estar de seus filhos. No primeiro ms do ano, em Mato Grosso 2 crianas de trs e oito anos de idade perderam a me, assassinada pelo marido, na frente das crianas. O assassino foi morto pela polcia e ao perderem pai e me, as crianas foram encaminhadas para o Conselho Tutelar, at que algum parente se oferea para cria-las.

Esta semana saiu a sentena de um assassino, dois anos aps o feminicdio cometido contra a esposa na cidade de Cotriguau, onde o indivduo cumpre pena. Ao receber a sentena, a defesa alegou incidente de insanidade mental do ru a ponto de no compreender a gravidade do ato que praticou. A realizao do exame, obviamente foi negada.

Cada indivduo pode ter um modelo de comportamento e pensamento em termos de gnero, mas precisamos questionar e refletir sobre nosso comportamento, pode revelar em que altura da vida, adotamos subconscientemente ou no, uma maneira sexista de pensar.

Olga Lustosa sociloga e cerimonialista pblica.Escreve com exclusividade para esta coluna aos domingos. E-mail: [email protected]​