Lidar com cenas de crimes brbaros e seguir sem mculas na mente uma tarefa impossvel, mas algo enfrentado rotineiramente por peritos criminais.A profisso exige que os profissionais desenvolvam mecanismos para que a exposio violncia traga o mnimo de dano possvel mente de quem precisa de tcnica e frieza para "ler" uma cena de crime.“O perito ser humano e crimes criam carimbo na mente que no se apagam”, afirma o perito criminal Manoel Messias, servidor da Percia Oficial e Identificao Tcnica (Politec).

Rodinei Crescncio/Rdnews

Em entrevista ao , na sede do portal, ele partilhou os desafios da profisso. Lembra, por exemplo, de quando foi acionado para atender ao caso de uma me que acabou matando a prpria filha ao se deitar por cima dela. Pai de uma menina, Manoel relembra que o chamado ocorreu quando a sua prpria filha ainda era recm-nascida e diz que esse apenas uma das histrias que leva consigo at os dias atuais.

“Eu fui no local, logo pela manh, e a ocorrncia era de que a me teria dormido sobre o beb. Deu asfixia. Eu fiquei muito mal. Eu fui para a viatura logo depois [dos trabalhos], e o delegado veio conversar comigo. Eu pedi para conversar depois porque eu precisava me recompor”, recorda.

“ inevitvel. O perito ser humano. Agora, preciso desenvolver mecanismos para que isso traga um dano mnimo possvel. Se no, no toa que ns temos muitos casos de pessoas com depresso. um ambiente extremo. Ns convivemos com suicdios e vrios outros tipos de mortes brutais e violentas”, salienta.

Manoel destaca que o cuidado com a sade mental importante e o Governo de Mato Grosso vem focando mais nisso nos ltimos anos, mas que ainda preciso mais a ser feito. “J foi pior. Tem melhorado, mas pode ser muito melhor ainda. Porque temos casos, repito, que so carimbos, que ficam na nossa cabea e no saem, no saem”, salienta.

“ muito diferente de qualquer atividade fsica, que voc dorme e na outra hora voc est recomposto. muito diferente. O perito, por anos e anos ele a pelo local, ele lembra de detalhes do que aconteceu. Ele manipula foto, ento sempre est vindo tona toda aquela imagem. E repito, no uma imagem boa, suicdio, algum baleado, disparo de arma de fogo, locais de mortes brutais”, acrescenta.

Manoel foi o perito que atuou no caso da adolescente Heloysa Maria de Alencastro Souza, de 16 anos, que foi assassinada no dia 22 de abril deste ano, em Cuiab. Ele cita que, ao fazer a anlise para saber como a jovem for morta, conseguiu perceber a angstia que ela sofreu.

“Ela estava completamente subjugada, ou seja, com as mos e os ps amarrados, porque se no tivesse, certamente poderia aparecer marcas no pescoo dela, tentando se desvencilhar do instrumento do agressor. Mas ela estava completamente subjugada. O nvel de crueldade foi assustador. Uma moa com uma vida enorme pela frente. E a gente que olha de fora, pensa: ‘s por causa disso aqui?’”, lamenta.

Relembre o caso

Heloysa foi sequestrada na noite de tera-feira (22), no bairro Morado do Ouro, na Capital, durante um suposto assalto. O corpo da adolescente foi achado dentro de um poo na Avenida Dubai, na Capital. Percia apontou que a jovemfoi morta por asfixia - na modalidade estrangulamento -, comuso de cabo USB. O padrasto da jovem,Benedito Anunciao de Santana, de 40 anos, e seu filho, Gustavo Benedito Junior Lara de Santana, 18 anos, foram indiciados pela Polcia Civil, denunciados pelo Ministrio Pblico Estadual e se tornaram rus pelo sequestro e assassinato da menor.