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Segunda-Feira, 19 de Maio de 2025, 10h:21 | Atualizado: 19/05/2025, 10h:21
As prticas de curar na sociedade mato-grossense 311452
Denise D. Abech e Maria de Lourdes Fanaia

Denise D. Abech e Maria de Lourdes Fanaia
Em Mato Grosso, no perodo da escravido e incio do sculo XX, a arte de curar e o tratamento com as enfermidades envolveram vrias prticas e vrios agentes sociais, conforme Jesus (2002). A arte uma manifestao do ser humano que compreende um saber e os modos de fazer e de ser, capaz de criar experincias e conhecimentos em qualquer sociedade e em todos os tempos histricos. A cultura envolve a arte e no h sociedade sem cultura; podemos dizer que qualquer forma de arte humaniza.
Para melhor compreenso, os estudos de Nauk de Jesus (2002) e Marina Azem (2009) foram es fundamentais para este texto. Alm disso, visitamos o Arquivo Pblico do Estado de Mato Grosso (APMT), pois variadas fontes mostram como as autoridades atendiam sociedade cuiabana frente s dificuldades pelas epidemias e doenas existentes entre os sculos XVIII e incio do sculo XX.
No perodo colonial no havia um planejamento sobre a sade da populao, assim como, no havia informaes sobre o contexto de doenas ou de epidemias. Os jesutas, responsveis preliminares pela sangria, parto, prescrio e algumas operaes cirrgicas, embora buscassem a sade fsica, aspiravam a sade espiritual (Abreu, 2018; Ponte; Falleiros, 2010). Com eles, surgiram as primeiras enfermarias e boticas, que continham medicamentos trazidos de Portugal. As boticas eram as farmcias, responsveis pela manipulao dos medicamentos recomendados por mdicos ou cirurgies (Jesus, 2022, p. 71) e o que eram utilizados nas boticas no conseguiam suprir em quantidade suficiente da demanda existente e foi nesse universo que participaram, tambm, benzedores e parteiras (Santos, 2015, p. 67).
“A medicina oficial no perodo colonial e imperial, inicialmente, era vista com desconfiana pela populao e, s no sculo XIX, o mdico se transformou no principal responsvel pela organizao hospitalar; at ento, o mdico de hospital era inexistente” 5n3x5i
As dificuldades da assistncia Mdica no Brasil colonial decorreram da quase inexistncia de profissionais nessa rea, do pouco interesse dos mdicos portugueses em vir para o Brasil e da proibio de se instalar ensino superior na Colnia (Miranda, 2017, p. 3). Diferentes agentes exerciam a Medicina a sua maneira, como os barbeiros – que, alm de cortar cabelo, aplicavam comumente a sangria com uso de sanguessugas, os boticrios, os curandeiros, as parteiras e os cirurgies com formao puramente prtica (Ponte; Falleiros, 2010).
Desse modo, a populao se aproximou dos benzedores, curandeiros, raizeiros e as plantas medicinais; amuletos e rituais religiosos e simpatias fizeram parte do universo. Inicialmente, a reorganizao do espao hospitalar no Brasil colonial fez-se, paulatinamente, apenas nos hospitais militares, no incio do sculo XIX. As plantas medicinais, como, a erva de bicho, a quina, angico, poaia, barbatimo, erva-de-santa-maria, pico, caroba, erva-de-santo-Incio, aguap” (Assis, 1988, p. 140) fizeram parte desse universo conhecimentos oriundos dos indgenas e dos grupos afro-brasileiros.
A poia, por exemplo, planta medicinal, chamada de ipecacuanha – ipeca, uma raiz do cerrado e possui uma semente chamada emetina que servia para medicamento. Por isso, era produto exportado e industrializado na Europa. A raiz servia para tratamento de coqueluche, bronquite e at mesmo disenterias. E na extrao trabalhavam os africanos livres, escravizados e os indgenas que, inclusive, tinham conhecimentos sobre a raiz. Os conhecimentos ancestrais do cerrado nos dias atuais, de acordo com Silva (2024), fazem parte do viver e do fazer de uma cultura quilombola, como as sementes crioulas, componentes da alimentao, e plantas medicinais relacionadas ao extrativismo.
A medicina oficial no perodo colonial e imperial, inicialmente, era vista com desconfiana pela populao e, s no sculo XIX, o mdico se transformou no principal responsvel pela organizao hospitalar; at ento, o mdico de hospital era inexistente (Miranda, 2017, p. 4). Os ofcios do mdico e do cirurgio foram dissociados; enquanto o mdico instrudo e dedicado ao estudo dos livros prescrevia medicamentos e exercia a medicina, o cirurgio prtico dava-se de forma patente um ofcio considerado indigno e servil, que, por prescrio mdica, fazia sangrias, curava fraturas e tumores (Jesus, 2022, p. 71).
No perodo colonial, segundo Jesus (2002, p. 17), havia a presena dos oficiais de cura (mdicos, cirurgies, boticrios, sangradores, enfermeiros e parteiras) reconhecida pelas autoridades das vilas e tinham prestgio social. J no sculo XIX a profisso do mdico a a ser oficializada, mas concorreram com os agentes benzedores, curandeiros, parteiras. As discusses sobre higiene e sade no sculo XIX foram ressaltadas nos discursos das autoridades polticas e circuladas na imprensa, porm, vel a uma pequena parcela da populao.
No cenrio brasileiro, um grupo de mdicos fundaram, no Rio de Janeiro, a Sociedade da Medicina e para isso surgiu, na dcada de 1830, um peridico chamado de semanrio; uma espcie de manual elaborado pela Associao Mdica. Esse semanrio da sade pblica, de 1831, do Rio Janeiro, divulgava as doenas que ocorriam, enfatizando o valor da Medicina e o poder da cincia e seus recursos cientficos para a cura das molstias e informavam as cmaras municipais para que providncias fossem agilizadas em prol da sociedade. Os peridicos difundiam o conhecimento mdico internacional, davam visibilidade s aes das instituies mdicas, voltados para um pblico especfico e diminuto: os prprios mdicos (Gagliardo, 2020, p. 898).
So vrios os anncios no jornal luz de 1924 contra a prtica da parteira por nascimento de crianas cegas ou com infeco cordo umbilical e, de acordo com o jornal, uma soluo seria realizar o treinamento no consultrio do Dr. Agrcola Paes de Barros. O povo pobre no pode pagar mdicos e nem possurem parteiras de curso para atend-lo, da a necessidade de o governo educar as parteiras no formadas para evitar que muitos patrcios nossos venham ficar cegos e impossibilitados de concorrer para o progresso da Ptria.
No mesmo jornal tambm contra os curandeiros: quem pode impedir charlates, feiticeiro, de benzer feridas, receitar remdios, fazer simpatia, garrafadas, entre outros, esto ligados aos coronis, e a sade pblica nada pode fazer. Alm disso, havia mdicos que prometiam curas. Assim, os jornais diziam: Organismos enfraquecidos pelos excessos fsicos, intelectuais ou outros, reparam-se com Phospho-Kola Giffoni, granulado saboroso de noz de Kola e fosfato physicolgico a venda nas boas pharmacias do Estado, e no Rio de Janeiro (jornal O mato Grosso, ano XXIII-1912).
Essas atitudes eram criticadas. No entanto, uma parcela da populao, ficava vulnervel e vrias doenas atingiam o grupo social afro-brasileiro. Contudo, o mdico italiano Medardo Rivera foi bastante elogiado, por alguns presidentes da provncia, por tratar da sade dos “africanos livres” (Moura, 2014, p. 164).
Embora a higiene e sade fossem temas frequentes dos governantes no sculo XIX, na provncia de Mato Grosso (hoje, Estado) no havia saneamento bsico, gua encanada potvel, mas sim, guas estagnadas e lixos espalhados, mosquitos, doenas variadas, como, malria, tuberculose, varola, entre outras, pois alm da escassez de profissionais da rea mdica, faltavam remdios.
O exerccio da profisso das parteiras estava associado s mulheres, partilhando segredos e cuidados encontrados no imaginrio social feminino da poca, seu aliado principal (Age, s/d, p). Ao falar sobre o processo de curar/cuidar difcil desconsiderar essa prtica de conhecimento popular, exercida pelas mulheres.
Na poca, havia o hospital militar e o Lazareto, e s em 1817 que surgiu o Hospital Nossa Senhora da Conceio - Santa Casa de Misericrdia de Cuiab, instituio presente no espao cuiabano, oriunda de Portugal com uma funo caritativa, religiosa e social, dando abrigo e alimentando os pobres e doentes.
O poder municipal discursava sobre os cuidados com a lepra e demais doenas endmicas e epidmicas e a poltica sanitria nos portos, porm nem sempre os vereadores conseguiam suprir as necessidades. Conforme as consideraes apresentadas a arte de cuidar das pessoas nos diversos momentos histricos, mesmo diante das dificuldades foram tambm prticas teraputicas. A Medicina constitui um saber cientfico, o cuidado com o ser humano uma combinaoentre cincia e saberes populares.
Denise D. Abech mdica e atua como coordenadora da Faculdade de Medicina da Unic; Maria de Lourdes Fanaia Prof.Dr da Unic
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