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Sábado, 31 de Maio de 2025, 07h40 5a211d

MARCAS DA VIOLÊNCIA

Crimes criam carimbos na mente que não se apagam, diz perito criminal

Para ele, os peritos têm que desenvolver mecanismos para que a exposição com crimes bárbaros traga o mínimo de dano possível à mente do profissional

João Aguiar

Lidar com cenas de crimes bárbaros e seguir sem máculas na mente é uma tarefa impossível, mas é algo enfrentado rotineiramente por peritos criminais. A profissão exige que os profissionais desenvolvam mecanismos para que a exposição à violência traga o mínimo de dano possível à mente de quem precisa de técnica e frieza para "ler" uma cena de crime. “O perito é ser humano e crimes criam carimbo na mente que não se apagam”, afirma o perito criminal Manoel Messias, servidor da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec). 

Rodinei Crescêncio/Rdnews

Em entrevista ao #rdnews, na sede do portal, ele partilhou os desafios da profissão. Lembra, por exemplo, de quando foi acionado para atender ao caso de uma mãe que acabou matando a própria filha ao se deitar por cima dela. Pai de uma menina, Manoel relembra que o chamado ocorreu quando a sua própria filha ainda era recém-nascida e diz que esse é apenas uma das histórias que leva consigo até os dias atuais.

“Eu fui no local, logo pela manhã, e a ocorrência era de que a mãe teria dormido sobre o bebê. Deu asfixia. Eu fiquei muito mal. Eu fui para a viatura logo depois [dos trabalhos], e o delegado veio conversar comigo. Eu pedi para conversar depois porque eu precisava me recompor”, recorda.

“É inevitável. O perito é ser humano. Agora, é preciso desenvolver mecanismos para que isso traga um dano mínimo possível. Se não, não à toa que nós temos muitos casos de pessoas com depressão. É um ambiente extremo. Nós convivemos com suicídios e vários outros tipos de mortes brutais e violentas”, salienta.

“É um ambiente extremo. Nós convivemos com suicídios e vários outros tipos de mortes brutais e violentas” 3g40j

Perito criminal Manoel Messias

Manoel destaca que o cuidado com a saúde mental é importante e o Governo de Mato Grosso vem focando mais nisso nos últimos anos, mas que ainda é preciso mais a ser feito. “Já foi pior. Tem melhorado, mas pode ser muito melhor ainda. Porque temos casos, repito, que são carimbos, que ficam na nossa cabeça e não saem, não saem”, salienta.

“É muito diferente de qualquer atividade física, que você dorme e na outra hora você está recomposto. É muito diferente. O perito, por anos e anos ele a pelo local, ele lembra de detalhes do que aconteceu. Ele manipula foto, então sempre está vindo à tona toda aquela imagem. E repito, não é uma imagem boa, é suicídio, é alguém baleado, disparo de arma de fogo, locais de mortes brutais”, acrescenta.

Manoel foi o perito que atuou no caso da adolescente Heloysa Maria de Alencastro Souza, de 16 anos, que foi assassinada no dia 22 de abril deste ano, em Cuiabá. Ele cita que, ao fazer a análise para saber como a jovem for morta, conseguiu perceber a angústia que ela sofreu.

“Ela estava completamente subjugada, ou seja, com as mãos e os pés amarrados, porque se não tivesse, certamente poderia aparecer marcas no pescoço dela, tentando se desvencilhar do instrumento do agressor. Mas ela estava completamente subjugada. O nível de crueldade foi assustador. Uma moça com uma vida enorme pela frente. E a gente que olha de fora, pensa: ‘só por causa disso aqui?’”, lamenta.

Relembre o caso

Heloysa foi sequestrada na noite de terça-feira (22), no bairro Morado do Ouro, na Capital, durante um suposto assalto. O corpo da adolescente foi achado dentro de um poço na Avenida Dubai, na Capital. Perícia apontou que a jovem foi morta por asfixia - na modalidade estrangulamento -, com uso de cabo USB. O padrasto da jovem, Benedito Anunciação de Santana, de 40 anos, e seu filho, Gustavo Benedito Junior Lara de Santana, 18 anos, foram indiciados pela Polícia Civil, denunciados pelo Ministério Público Estadual e se tornaram réus pelo sequestro e assassinato da menor.

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