ELEIÇÕES 2024 5t7022

Segunda-Feira, 30 de Setembro de 2024, 12h05 3e5s6z

RONDONÓPOLIS

CV obrigaria membros a angariar votos para Ary; candidato se apresenta à Derf

Acompanhado de militantes, Ary se apresentou à polícia na manhã de hoje e segue fazendo campanha

Thaís Fávaro

Reprodução

Candidato a vereador Ary Campos se apresenta na DERF e é acompanhado por apoiadores

A Associação dos Familiares e Amigos de Recuperandos de Rondonópolis (Afar), alvo da Operação Infiltrados, deflagrada na sexta (27), pode estar por trás do financiamento da campanha eleitoral do candidato a vereador pelo município, Ary Campos (PT). Alvo da operação, ele se apresentou na manhã desta segunda (30) na Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (DERF) - na sexta  a defesa já havia protocolado uma petição informando que o apresentaria hoje. Petista chegou ao local acompanhado de militantes.

Segundo as investigações, os integrantes do grupo criminoso seriam obrigados a impor a familiares e simpatizantes a adesivagem de veículos com slogans do número do advogado candidato e a participarem de reuniões de campanha e de grupos no aplicativo WhatsApp, criados para angariar votos para o candidato a vereador. 

Ary segue fazendo campanha normalmente pela cidade, inclusive com atos de adesivamento - veja vídeo. Por estar a menos de 15 dias das eleições municipais, nenhum candidato pode ser preso. Por conta disso, Ary foi submetido a medidas cautelares como o uso de tornozeleira eletrônica.

 

Uso político

Durante a investigação que embasou a Operação Infiltrados, a equipe da Derf reuniu informações que apontaram o uso da associação para angariar apoio popular para elegerem candidatos a cargos políticos. Um grupo em aplicativo de mensagens foi criado com esse intuito, com a obrigatoriedade dos integrantes em permanecer, sendo vedada a saída e com determinações das atividades que deveriam ser realizadas, além do compartilhamento de frases e símbolos em alusão à organização criminosa.

Em abril de 2024, a Afar assinou com a Prefeitura de Rondonópolis um termo de colaboração para ree mensal de R$ 10 mil mensais (120 mil/ano). A estratégia, segundo a polícia, era a inserção do advogado da associação, Ary, vulgo “Capitão”, como candidato à Câmara.

A associação teria acordado entre seus membros o total apoio à candidatura do advogado ao pleito eleitoral de 2024. A partir de então, o advogado teria ado a liderar as atividades da Afar com a organização de eventos que supostamente auxiliariam na reabilitação de egressos do Sistema Penitenciário. As atividades incluíam trabalhos voluntários para arrecadação e distribuição de alimentos a pessoas de baixa renda e assim obter credibilidade, além de eventos esportivos, realização de bingos, entre outras atividades, preferencialmente nas regiões periféricas de Rondonópolis.

Investigações

Entre 2021 e 2024, em prisões realizadas de suspeitos ligados à facção criminosa e em investigações feitas pela Derf, foram apreendidos diversos materiais, como cartelas de jogos e bingos, anúncios de eventos esportivos e cestas básicas que apontaram a Afar como suposto "braço" da organização criminosa.

Em junho de 2022, foram apreendidas no bairro Cidade Natal, diversas cartelas de bingo da Afar e cestas básicas. Em agosto do mesmo ano, a Polícia Civil apreendeu cartelas de bingo do 6º Torneio e Show de Prêmios Beneficente da Afar.

No ano de 2023, durante a Operação Fumacê, da Delegacia de Alto Araguaia, contra integrantes de organização criminosa envolvida com tráfico de drogas, tortura, homicídio foi apreendido material da campanha do advogado Ary, que naquele ano disputou o cargo eletivo de deputado federal.

No ano ado, a mesma associação foi alvo de uma investigação da Gerência de Combate ao Crime Organizado da Polícia Civil, com o cumprimento de mandado de busca e apreensão durante a Operação Armadillo, que apurou o envolvimento de diversas pessoas na escavação de um túnel para a fuga de líderes criminosos da Penitenciária Central do Estado.

Durante as buscas na associação, a presidente LV.D.C., no momento da abordagem, tentou quebrar seu celular, que estava apreendido, tomando o aparelho das mãos de uma investigadora, que conseguiu retomar o celular e imobilizar a investigada. A prática de quebrar o celular é uma determinação da organização criminosa a membros que possuem funções de chefia ou, a fim de proteger os dados de outros membros.

Já em maio deste ano, durante cumprimento de mandado de busca e apreensão em uma residência no Jardim Brasília, usada para armazenar entorpecentes que abasteciam o bairro e arredores, policiais da Derf apreenderam cartelas de bingo da Afar, camiseta do time Futebol Clube Unidos da Região Sul e cestas básicas, que são distribuídas através da associação. Investigações anteriores já apontavam o time de futebol como sendo da organização criminosa.

O dinheiro dos bingos, conforme a polícia, seria proveniente da venda de drogas em toda a região sul de Mato Grosso, sendo recorrente a apreensão de cartelas em pontos de tráfico. Os valores decorrentes da venda de drogas ingressam com aparência lícita no caixa da Afar, que faz a compra das cestas básicas.

Montagem/Rdnews

Um dos investigados foi identificado como o responsável em recolher valores da “camisa” dos integrantes da organização criminosa e também sobre o resultado das vendas de cartelas de bingo da Afar. A aquisição das cartelas é obrigatória aos integrantes da organização criminosa e os inadimplentes são punidos com a realização de trabalhos sociais.

Segundo a operação, há indícios de que a associação tenha sido criada com o objetivo de promover uma organização criminosa junto aos bairros da região da Vila Operária, onde o grupo comanda o tráfico de drogas.

A associação foi alvo de mandado de busca e apreensão, sequestro de bens e bloqueio de valores e sua presidente, L.V.D.C, de 29 anos, presa na última sexta-feira (27).

A decisão do Núcleo de Inquéritos Policiais de Cuiabá determinou ainda a suspensão das atividades e o ree de valores que a entidade vinha recebendo da Prefeitura de Rondonópolis.

 

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